Base
Nacional Comum Curricular Campos de Experiência Educação Infantil
Considerando que, na Educação Infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento
das crianças têm como eixos estruturantes as interações e as brincadeiras,
assegurando-lhes os direitos de conviver, brincar, participar, explorar,
expressar-se e conhecer-se, a organização curricular da Educação Infantil na
BNCC está estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são
definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Os campos de
experiência constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as
experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes,
entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte de patrimônio cultural.
A definição e denominação dos campos de experiências também se baseiam no
que dispõem as DCNEI em relação aos saberes e conhecimentos fundamentais a ser
propiciados às crianças e associados às suas experiências. Considerando esses
saberes e conhecimentos, os campos de experiências em que se organiza a BNCC
são:
O eu, o outro e o nós – É
na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um
modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros
modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem
suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na
coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os
outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres
individuais e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações sociais e de
cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado,
de reciprocidade e de interdependência com o meio. Por sua vez, no contato com
outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes,
técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e
narrativas, que geralmente ocorre na Educação Infantil, é preciso criar
oportunidades para as crianças ampliarem o modo de perceber a si mesmas e ao
outro, valorizarem sua identidade, respeitarem os outros e reconhecerem as
diferenças que nos constituem como seres humanos.
Corpo, gestos e movimentos – Com
o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais,
coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o
espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam
e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e
cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa 37 EDUCAÇÃO INFANTIL
corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o
teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no
entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As crianças conhecem e
reconhecem com o corpo suas sensações, funções corporais e, nos seus gestos e
movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao
mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua
integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha
centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagó- gicas de
cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a
submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas
para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com
seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos,
olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação
e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar,
escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar,
equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.).
Traços, sons, cores e formas – Conviver
com diferentes manifesta- ções artísticas, culturais e científicas, locais e
universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por
meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e
linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia
etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base
nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas
próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e
individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções,
desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos
tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as
crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos
outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa
promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção,
manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da
sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo
que elas se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e
potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas
experiências e vivências artísticas.
Oralidade e escrita – A
Educação Infantil é a etapa em que as crianças estão se apropriando da língua
oral e, por meio de variadas situa- ções nas quais podem falar e ouvir, vão
ampliando e enriquecendo seus recursos de expressão e de compreensão, seu
vocabulário, o que possibilita a internalização de estruturas linguísticas mais
complexas. Ouvir a leitura de textos pelo professor é uma das possibilidades
mais ricas de desenvolvimento da oralidade, pelo incentivo à escuta
atenta, pela formulação de perguntas e respostas, de questionamentos, pelo
convívio com novas palavras e novas estruturas sintáticas, além de se
constituir em alternativa para introduzir a criança no universo da escrita.
Desde cedo, a criança manifesta desejo de se apropriar da leitura e da escrita:
ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que
circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua
concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita,
gêneros, suportes e portadores. Sobretudo a presença da literatura infantil na
Educação Infantil introduz a criança na escrita: além do desenvolvimento do
gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de
mundo, a leitura de histórias, contos, fábulas, poemas e cordéis, entre outros,
realizada pelo professor, o mediador entre os textos e as crianças, propicia a
familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação
entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas
corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as
crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam,
inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em
escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da
escrita como representação da oralidade.
Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações – As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes
dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais.
Desde muito pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro,
cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram
também curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos
atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os
diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o
mundo sociocultural (as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que
conhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e
costumes; a diversidade entre elas etc.). Além disso, nessas experiências e em
muitas outras, as crianças também se deparam, frequentemente, com conhecimentos
matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões,
medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias,
reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de numerais
cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto, a
Educação Infantil precisa promover interações e brincadeiras nas quais as
crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu
entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar
respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está
criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo
físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano.